Quando Tudo Começou Com um “Brincar”
Como uma demissão inesperada me levou a descobrir meu verdadeiro propósito através da infância e do afeto
Uma conversa, uma dor compartilhada e uma nova ideia
Tudo começou em uma caminhada despretensiosa com uma amiga. Enquanto andávamos e conversávamos, ela desabafou sobre o trauma que carregava das escolas onde havia trabalhado. Falou da inveja, da competição, do ego – e de como tudo isso havia minado sua motivação.
Naquele momento, meu coração se conectou ao dela. Eu também vivia um momento difícil. Havia sido dispensada de uma empresa onde atuei por 8 anos no setor financeiro. Um dos motivos? Ter feito pedagogia. Parecia injusto, mas essa dor escondia algo maior.
O conselho que mudou tudo
“Por que você não tenta trabalhar como babá?”, ela sugeriu. “Você já cuidou dos seus filhos, sobrinhos… e com a sua formação, isso pode ser um diferencial!”
Foi como um estalo. Sempre amei crianças, sempre acreditei na educação como ferramenta de transformação. Então por que não?
Com coragem e um pouco de medo, aceitei a ideia. Minha amiga pediu à sua ex-patroa que me recomendasse em um grupo de mães. Pouco tempo depois, duas mães entraram em contato. Fui fazer minha primeira entrevista.
A mãe, a filha e o brincar
Estava nervosa. Muito. A mãe me recebeu com gentileza e, grávida de alguns meses, me ouviu com atenção. Perguntei:
“O que você quer que eu faça?”
Ela respondeu com algo que transformaria a minha vida:
“Quero que você brinque com a minha filha.”
Brincar.
Tão simples. Tão profundo.
Voltei para casa pensativa. O brincar carrega tantas camadas… não é apenas passatempo, é linguagem da infância, é vínculo, é escuta, é presença.
Mas, comecei…
Brinquei. Inventei mundos. Me encantei com cada descoberta daquela menina que me ensinava, dia após dia, como ser uma adulta melhor. Não apenas cuidei, eu vivi com ela. E esse viver me transformou.
Por isso, hoje, faço questão de honrar quem me deu essa primeira oportunidade. Júlia – o seu nome mora no meu coração com gratidão eterna. Você acreditou em mim quando nem eu acreditava. Me deu liberdade, confiou no meu trabalho, enxergou meu potencial. Foram nove meses naquela casa, tempo suficiente para nascer um bebê – e, de certa forma, uma nova Lu também nasceu ali.
Da dúvida ao encantamento
No início, não foi fácil. Construir vínculo com uma criança exige presença real, entrega, escuta. Mas logo percebi: brincar é muito mais que entreter. É cuidar, ensinar, fortalecer laços. É estar ali por inteiro.
Enquanto outras babás apenas passavam o tempo, eu mergulhei no universo da infância. Inventei histórias, criei mundos, cantei músicas, senti a alegria genuína de estar com ela. E com o tempo, essa mãe – Júlia – se tornou alguém especial na minha jornada.
Gratidão por quem acreditou em mim
Júlia me deu liberdade, confiou no meu trabalho e acreditou no meu potencial quando nem eu acreditava. Foram nove meses intensos, repletos de aprendizados, brincadeiras e carinho. Quando precisei me despedir, chorei. Mas saí com uma nova certeza: eu havia encontrado minha missão.
Ela me indicou para outras famílias e assim, pouco a pouco, “tia Lu” passou de um apelido carinhoso a uma profissão e um propósito.
De uma porta fechada a uma vida com sentido
Quando fui demitida por ter feito pedagogia, achei que era o fim. Mas, na verdade, era o início de um caminho muito mais significativo. Um caminho cheio de sorrisos, manhãs corridas, tardes de risadas e noites de histórias.
Hoje, cada criança com quem trabalho me ensina a ser melhor. Me mostra que o brincar cura, que o cuidar transforma, que a presença vale mais que qualquer diploma. Sou grata. Profundamente grata.
Finalizando com amor e propósito
Se você está vivendo um momento de transição ou incerteza, lembre-se: às vezes, Deus fecha portas que você não teria coragem de trancar, apenas para te guiar até um novo caminho.
Talvez o que pareça fim, seja só o começo de algo muito mais bonito.
E, como eu descobri, tudo pode começar com um simples… brincar.